sábado, 23 de janeiro de 2010

Liberação de R$ 55 milhões à Capital pode ser ‘agrado’ eleitoreiro a Nelsinho




Jornalismob.files.wordpress.com e Alessandra de Souza
A ministro Dilma Rouseff, pré-candidata do PT e Nelsinho Trad, prefeito da Capital

Celso Bejarano Jr. e Valdelice Bonifácio

O governo de Lula disponibilizou nesta semana por meio de linha de crédito R$ 55 milhões a prefeitura de Campo Grande, recurso que já pode ser gastado com o projeto conhecido como mobilidade urbana, um plano inventado para melhorar o transporte da cidade.

O dinheiro foi liberado até agora, ano de eleição, para apenas duas prefeituras do país, uma delas Campo Grande, chefiada pelo prefeito Nelsinho Trad, do PMDB e Rio de Janeiro, cuja prefeitura também é comandada por peemedebista.

O benefício, embora o prefeito negue, pode ter interesse eleitoreiro: em troca do programa, Nelsinho Trad pediria votos para a candidata do PT à presidência, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil)

Nelsinho, na verdade, é um antigo aliado do governo Lula. Quando questionado há cerca de três anos pela Casa Civil, se o governo poderia contar com o apoio dele, o prefeito informou que se fosse para favorecer Campo Grande, toparia.

Porém, até aqui nunca Nelsinho admitiu publicamente que apoiaria Dilma para a presidência da República. Mas, por outro lado, ainda não descartou tal hipótese. O prefeito costuma dizer que não quer atrapalhar o projeto de reeleição do governador André Puccinelli (PMDB). Por isso, não dá uma resposta objetiva sobre a questão.

André só se esquiva quando questionado se apoiará Dilma ou o potencial adversário da petista, José Serra (PSDB). Em recente entrevista coletiva, o governador disse que ainda não se definiu porque aguarda as definições no cenário nacional. De fato, nem Dilma e nem Serra até são pré-candidatos oficialmente. Os dois só devem entrar na disputa pra valer em abril, limite para deixarem os cargos que ocupam.

O próprio PMDB é dividido nacionalmente. A cúpula quer se aliar a Dilma e indicar o vice na chapa dela. Mas, há o grupo que defende aliança com Serra e uma pequena corrente que prefere candidatura própria à presidência da República. O governador do Paraná, Roberto Requião, já se apresentou para concorrer ao posto.

As notícias de que o Planalto assediaria prefeitos do PMDB não são novas. De maneira velada, o governo federal cobra a fatura pelas obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e outras melhorias que os prefeitos obtiveram se beneficiando do fato de o PMDB pertencer a base aliada do governo Lula.

Interesses

Apenas dois municípios brasileiros foram favorecidos com o programa nacional batizado de mobilidade urbana até agora, ano de eleição: o de Nelsinho Trad e o do Rio Janeiro, também chefiado por um prefeito peemedebista, o Eduardo Paes.

Embora o prefeito tenha rechaçado a ideia de que o envio do benefício para cá tenha sido fruto de uma ação eleitoreira não consegue descartar o apoio a Dilma.

Nelsinho Trad disse hoje cedo ao Midiamax, por telefone, que sua maior intenção agora é apoiar o governador André Puccinelli, mas fez suspense quanto a sua preferência pela sucessão de Lula. Siga o diálogo.

Midiamax – Bom dia prefeito, verdade que nesta semana o governo federal liberou R$ 58 milhões a prefeitura de Campo Grande, para prefeitura, não para o Estado

Nelsinho Trad – Verdade, não esse valor todo, não. Desse montante, a prefeitura entra com R$ 3 milhões.

Midiamax – Mas o dinheiro será liberado quando?

Nelsinho Trad – Já está disponível, esse recurso vem da linha de crédito Pró-Transporte e nosso projeto será logo posto em prática e comando pelo diretor da Agetran (Agência Municipal de Trânsito), Rudel Trindade.

Midiamax – O governo federal liberou verba a outra cidade com finalidade igual à de Campo Grande, no caso para custear projeto ligado ao trânsito?

Nelsinho Trad – Sim, Rio de Janeiro

Midiamax – Prefeito, a liberação de recurso para Campo Grande, cidade administrada pelo seu PMDB, parece ter uma intenção eleitoreira, não?

Nelsinho Trad – Não, o governo federal tem tratado Campo Grande como sempre, tratado bem?

Midiamax – Sim, mas correm boatos nos bastidores políticos que esse benefício pode ter agido como uma espécie de moeda de troca, com a verba o senhor ficaria quieto na prefeitura, não entraria na disputa por nenhum mandato e ainda apoiaria a ministra Dilma, tem sentido isso?

Nelsinho Trad – Eu agora penso numa coisa: na reeleição do governador André Puccinelli, só isso. Estarei à frente desta disputa, apoiando o André

Midiamax – Sim, o senhor vai apoiar André, mas quanto à disputa à presidência da República, vai apoiar a Dilma?

Nelsinho Trad – Apoio o André, agora a disputa presidencial é outra conversa

Midiamax – Então, apoiará a ministra?

Nelsinho Trad – Como disse, eleição estadual é uma e a disputa, já a outra, para presidente, e outra. Obrigado, bom dia.

O diálogo exibe de maneira clara apenas o apoio a reeleição de André, mas o prefeito não negou que pode apoiar a ministra.

O custo total do programa mobilidade urbana está orçado em R$ 58 milhões, R$ 3 milhões dos quais devem sair dos cofres da prefeitura de Campo Grande, por meio da conhecida contrapartida. Note a importância e o tamanho da ajuda federal: R$ 55 milhões, mais da metade do que Nelsinho Trad planeja arrecadar com o IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano) de janeiro a dezembro deste ano.

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