Aline dos Santos e Adriany Vital
Marcelo Victor
Há 20 anos com um ponto de táxi na avenida Afonso Pena, Antônio Portílio de Souza, acredita que o tombamento é uma tendência nas cidades que vivenciam crescimento acelerado.
Se há um século atrás, a Afonso Pena foi projetada para ser a o principal logradouro de Campo Grande - com acentuada inspiração nas formas do bulevar francês - hoje, avenida e cidade são indissociáveis.
Em 2009, a via, que faz ligação leste-oeste da Capital, pode ser alçada à condição de patrimônio da cidade. Partindo do Parque dos Poderes, a Afonso Pena comporta caminhadas, eventos culturais e status – que atrai instituições bancárias, lojas e prédios de luxo.
No Centro, a avenida passeia pela história da cidade de 109 anos e apresenta símbolos como o Obelisco, o Relógio, a Morada dos Baís, além das árvores que ocupam o canteiro central desde a década de 20.
Desde o dia 30 de abril, está em curso o processo, feito pelo MPE (Ministério Público Estadual), para que a avenida seja tombada como patrimônio histórico-cultural e paisagístico. A intenção é evitar que o canteiro central seja transformado em faixas de rolamento ou se destine à linha exclusiva para ônibus, por meio do sistema VLP (Veículo Leve sobre Pneu).
O pedido da promotora de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico e Cultural, Mara Bravo, é respaldado por um parecer do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul. O documento defende a importância da avenida.
“Ali estão localizados hotéis, o Círculo Militar, a Igreja Perpétuo Socorro, uma das mais antigas da cidade. No centro, a Morada dos Baís, Casa do Artesão que outrora foi primeira sede do Banco do Brasil, a Praça Ari Coelho, o prédio da antiga sede da 9.ª Região Militar, Escola Estadual Joaquim Murtinho a mais antiga das escolas estaduais na cidade”.
O valor histórico também é lembrado pelo vendedor Elias Júnior da Silva. “Além de ser a principal avenida da cidade, a Afonso Pena tem pontos turísticos importantes, como o Relógio e o Obelisco. Para mim, não precisa melhorar”, afirma Elias, ao defender que a via se transforme em patrimônio da cidade.
Para a pedagoga Maria Ilza da Cruz, a avenida é sinônimo de shopping e praça Ary Coelho. “Gosto da avenida como ela é e acho importante ser tombada como patrimônio histórico”.
Há 20 anos com um ponto de táxi na avenida Afonso Pena, Antônio Portílio de Souza, acredita que o tombamento é uma tendência nas cidades que vivenciam crescimento acelerado. “É como Curitiba. Quando vão crescendo, acontece isso”. Para o taxista, a principal avenida da cidade precisa de uma faixa específica para ônibus e melhoria na iluminação.
Tombo - Conforme o chefe do Núcleo de Divisão de Patrimônio da Fundac (Fundação Municipal de Cultura), Rubens Costa Marques, já venceu o primeiro prazo de 15 dias para contestações e, em junho, o pedido de tombamento segue para o Conselho de Cultura, que tem mais 30 dias para a decisão. “Como a avenida pertence à prefeitura, comunicamos à procuradoria do município, que não apresentou contestação”.
O conselho poderá tombar toda a Afonso Pena, conforme quer o MPE, ou delimitar áreas para preservação. Após a decisão do conselho, abre se novo prazo para impugnações. Caso haja contestação, a decisão segue para a segunda instância, no caso, o prefeito Nelsinho Trad (PMDB).
Natureza - Além de patrimônio histórico, a Afonso Pena abriga como riqueza natural as árvores centenárias distribuídas pelo canteiro central.
“Além de embelezar é um diferencial para a cidade”, afirma o aposentado João Pedriali, de 73 anos. Ele conta que estranhou a paisagem logo que veio de São Paulo com a esposa, há oito anos.
“Lá não tem árvores assim. Elas ajudam a melhorar o clima”, afirma a mulher de João, Thereza Martins Pedriali, de 71 anos.
Para o estudante Ananias Ferreira da Silva, de 25 anos, tombar a avenida como patrimônio é também uma forma de proteger as árvores do canteiro central. Para ele, são elas quem fazem o diferencial na área.
O professor Rodrigo Salvador, de 25 anos, conta são justamente as árvores centenárias da Afonso Pena que chamam a atenção de amigos de outros estados que visitam a Capital.
O rastafari Maurílio Lopes Leão, de 41 anos, conta que elas foram o motivo de sua ‘parada’ na cidade. Ele nasceu em Minas Gerais e vive a viajar pelo país, mas conta que sempre volta a Campo Grande pela natureza existente na cidade.
“Essas árvores da Afonso Pena fazem toda a diferença, você respira um ar puro”, afirma o viajante rastafari.
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