domingo, 23 de outubro de 2011

As araras-canindé se reproduzem na Capital de Mato Grosso do Sul (Neiva Guedes)


Desde 2000 acompanho a chegada das araras vermelhas (Arachloropterus) e canindé (Ara ararauna) em Campo Grande. Foi um período de grande seca, queimadas e escassez de alimentos na zona rural que fez com que as araras, sem ter o que comer, migrassem para a cidade. Eu acompanhei grupos de 20 a 47 indivíduos em Terenos, depois vindo para Campo Grande e posteriormente, alguns indivíduos indo para Ribas do Rio Pardo, Águas Claras e Três Lagoas.

Figura 1. Casal de arara-canindé (Ara ararauna) que se reproduziu em tronco de buriti a 150 m da minha casa, no Jardim Mansur por mais de 4 anos, periodo em que virou ponto turístico. Foto Mark Stafford.
Como são generalistas na alimentação, comem sementes e frutos de várias espécies ao longo do ano, estas araras encontraram alimentação farta em Campo Grande e acabaram se estabelecendo aqui. Para se reproduzir, as araras vermelhas utilizam espécies arbóreas e as araras-canindé utilizam troncos de palmeiras mortas.


Figura 2. Em abril 2010 casal de arara-canindé começou a fazer ninho ao lado da minha igreja (Presbiteriana do Bairro Amambaí). Todo mundo ficou encantado e passou a cuidar do ninho, repassando as informações. O ninho está a menos de 80 metros da principal avenida da cidade. Larissa Tinoco acadêmica de biologia da Univesidade Anhanguera-UNIDERP, faz observação do comportamento do casal que agora em novembro 2010, casal está com um filhote. Fotos Neiva Guedes.
Em Campo Grande, temos vários resquícios de buritizais ladeando os córregos e muitas palmeiras plantadas em quase todas as regiões da cidade. Com isso, as araras estão conseguindo se reproduzir e aumentar o número de indivíduos na cidade. Baseado nos dormitórios e número de ninhos, a população já passa de 100 indivíduos por aqui. Durante o dia todo, em várias partes da cidade, inclusive no centro, somos brindados com o grito ou visualização das araras. São araras-canindé, vermelhas e híbridas (resultado do cruzamento da arara-vermelha com arara-canindé) , que provavelmente cruzaram em cativeiro e foram soltas em alguma propriedade próxima a cidade.


Figura 3. Outro casal constrói seu ninho na rua Itápolis a menos de 2 m da rua. As araras se acostumam com o movimento da rua e nem se pertubam mais com o trânsito ou as pessoas parando para fotografá-las. A moradora de frente ao ninho, Silvia di Paula é a guardiã do ninho. Monitora o comportamento reprodutivo, registrando o comportamento com fotos. Ela amarrou um arame na parte superior do ninho para que o mesmo não se abra. Em 09/Nov/10 o ninho estava com um filhotão com mais ou menos 50 dias. Fotos Neiva Guedes.
Em 2009 co-orientei, juntamente com Dr. José Sabino, uma acadêmica de biologia da Universidade Anhanguera-Uniderp, Angelita Montaño, que fez o levantamento das espécies frutíferas que servem de alimentação na área urbana para as araras canindé. Agora, estou orientando Larissa Tinoco, também acadêmica de biologia da mesma Universidade que esta estudando o comportamento reprodutivo destas araras na cidade. Mais dois acadêmicos devem começar outros estudos, em Campo Grande e Ribas do Rio Pardo, no próximo ano.

Enfim, sinto-me privilegiada por ter estas araras na cidade e vê-las e ouvi-las enquanto trabalho no escritório. Quando me perguntam se isso é bom ou ruim, sempre digo que se está bom para as araras, melhor para nós. Temos uma cidade bem arborizada e com grande biodiversidade, onde além de araras podemos ver ainda, tucanos e outras espécies de aves (e até mamíferos) que fazem parte do nosso dia-a-dia. Por mais que tenhamos uma vida agitada e corrida, o contacto com a natureza sempre renova nossas energias.


Figura 4. Ninho de arara Canindé em bocaiúva no Bairro Mata do Jacinto. Larissa faz observação do comportamento do casal desde julho 2010. Em 09 de novembro Joacilei sobe ninho que está com dois filhotes para fazermos biometria e anilharmos. Fotos Larissa Tinoco.

Figura 5. Um dos filhotes de arara Canindé dentro do ninho da foto acima. Neiva e Larissa fazendo biometria e anilhando filhote em 09 de novembro de 2010. Pela primeira vez será utilizado anilhas coloridas para marcação dos filhotes. Anilhas foram doadas pelas Anilhas Capri. Alguns moradores acompanham os trabalhos. Fotos Joacilei Lemos Cardoso.
O que mais me alegra em tudo isso, é o envolvimento da população, que não só tem observado as araras na cidade, como também tem demonstrado interesse em colaborar para manter essa biodiversidade. Assim, acredito que a união de esforços da população e poder público, conseguirão realizar a conservação das espécies e a melhoria da qualidade de vida do próprio cidadão.

E para quem não tem o privilégio dos moradores de Campo Grande poderá visitar os locais de maior ocorrência e reprodução para conhecer melhor sobre as espécies.


Dra Neiva Maria Robaldo Guedes
Presidente do Instituto Arara Azul
Docente do Programa de Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento
Regional da Universidade Anhanguera Uniderp
Board Parrots International

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